sexta-feira, 20 de abril de 2012

Biógrafos de renome contam sobre grandes personagens da história brasileira

Figuras de peso do jornalismo brasileiro emprestam seu talento a personalidades emblemáticas da história do país. O seminário Biografia, biógrafos e biografados, sob o tema Grandes personagens e suas histórias incríveis, reuniu, nesta quinta-feira, na I BIENAL DO LIVRO, os biógrafos Fernando Morais, José Roberto Burnier e Carlos Marcelo, que contaram sobre como motivações históricas e curiosidades pessoais resultaram em pesquisas de fôlego e livros de grande apelo popular.

Sob a mediação de Eliane Cantanhede, colunista da Folha de São Paulo e também autora de uma biografia sobre o ex-presidente José de Alencar, o debate foi iniciado com as declarações do paulista de Campinas, José Roberto Burnier, há quase 30 anos na Globo, de como sua aproximação com o vice de Luís Inácio Lula da Silva acabou por render o livro Os últimos passos de um vencedor (2011).

“Nunca tinha escrito um livro, mas minha convivência de mais de cinco anos com José de Alencar e, especialmente, uma entrevista exclusiva que tive com ele após a mais longa de suas 18 cirurgias contra o câncer, na qual falou sobre a morte com uma sinceridade tocante, me levaram a essa ousadia, pois não tinha o direito de desperdiçar uma história tão rica como a desse homem”, declarou. O sinal verde veio apenas três meses depois. “Meu desafio era ouvi-lo, fazer as gravações, antes que morresse. Muitas das entrevistas foram dramáticas, em situações inusitadas, em meio a sessões de quimioterapia ou no próprio quarto de hospital em São Paulo. José de Alencar, que esteve como interino nada menos que 504 dias, era uma usina de informações”, disse.

Escritor de renome, Fernando de Morais, autor de clássicos da biografia, como A Ilha (1976), Olga (1985), Chatô, Rei do Brasil (1994), Corações Sujos (2000) e O Mago (2008), falou como o gênero seduz o leitor, afirmando ainda que não há biografia definitiva, todas são complementares. “O que são os quatro evangelistas senão os repórteres de uma época, cada um emprestando sua olhar, sua visão sobre Cristo”, provoca.

Morais contou sobre sua relação com alguns biografados e a dificuldade de contar a história de personagens vivos, a exemplo de Paulo Coelho, sua última obra. “O risco de fazermos uma biografia de um vivo é porque o vivo sempre muda”. A título de curiosidade, relatou que o autor, após quatro anos de trabalho e convivência com ele, ficou bravo com o resultado, chegando a expor, em entrevista, que “tinha medo dele próprio, daquele Paulo Coelho que tinha sido”. O biógrafo divertiu o público narrando que o escritor se queixava de ele não ter convicção religiosa alguma, acusando-o de “comunista que não entende de alma e que, por isso mesmo, não captou os claros e escuros de sua alma” – o que acabou por resultar em um livro que não privilegiou seu lado esotérico, transcendente.

O autor de Olga e Chatô aproveitou para falar do seu plano de lançar uma biografia de Lula, o qual vem sondando desde 2002 e que finalmente aceitou, quatro meses depois do diagnóstico do câncer na garganta, recortando a época de sua luta sindical a partir de sua prisão em 1980. “havia prometido nunca mais biografar uma pessoa viva, mas a figura do Lula é irresistível, estou com a parte do filé mignon, justamente uma parte de sua vida que formou seu caráter político”, declarou. Outro projeto em curso é a biografia de Antônio Carlos Magalhães, podendo ser retomado em qualquer instante: “Tenho coisas de ACM que ninguém jamais terá. Foram quase dez anos colhendo dados, entrevistas, gravações. ACM fez parte do poder de JK a Lula, com um mínimo intervalo de dois anos de ostracismo, justamente no governo Itamar”.

Um dos nomes mais célebres do rock nacional, retrato de uma geração, Renato Russo, mentor do Legião Urbana, mereceu o olhar e a pesquisa do jornalista paraibano Carlos Marcelo, com o livro Renato Russo, filho da Revolução (2009), resultado de nove anos de pesquisa e mais de cem entrevistas.

Carlos Marcelo conta que esteve no conturbado show da banda em 1988, que reuniu o maior número de pagantes da história do DF, quase 50 mil pessoas, e terminou em confusão e pancadaria, restando para a população de Brasília, berço do cantor, “revolta e animosidade”. Depois desse episódio, nunca mais Legião Urbana retornou a Brasília. “Desde então prevaleceu em mim perplexidade. Queria entender o que deu errado com o show, com Brasília e com o Brasil. De certa maneira, isso também era o retrato de como Brasília também não tinha chegado ao final, segundo sua pretensão o projeto originais”.

Segundo sua avaliação, o momento era de animosidade política, protestos contra o governo Sarney e o seu livro é “tanto uma tentativa de narrar o retrato de um artista quando jovem, que cresceu em meio à ditadura,”, como de ilustrar como eram Brasília e o Brasil no fim dos anos 70 e início dos 80 e toda uma sistemática de censura velada, “calma tensão”. Para ele, “escrever a biografia de Renato Russo é também escrever a biografia de cada um de nós, jovens dessa geração”.

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